sexta-feira, 19 de julho de 2019

O Turbilhão da Raiva e o Estresse



Por que você deve se preocupar com a raiva?

A raiva esta presente em nossas vidas, e consequentemente, em nossa sociedade. Como todas as emoções, ela tem função de existir em nosso mundo interno, mas a grande questão é conseguir identificar quando ela é excessiva. O ponto aqui não é recriminar a raiva, mas trazer uma reflexão para os dias de hoje onde as pessoas de um modo geral não estão muito atentas ao seu mundo interno, vivem um piloto automático no turbilhão do estresse e a raiva esta nesse pacote. Mas, por que nos preocupar?
Estudos científicos (e olha que são muitos) relatam que a raiva é um fator de altíssimo risco para indivíduos com constantes "ataques raivosos." Dentre os fatores de risco estão:

  • Desenvolvimento da hipertensão
  • Problemas cardíacos
  • Ulceras
  • Depressão
  • Obesidade
  • Relacionamentos conturbados
  • Violência doméstica
  • Altos índices de divórcio
  • Perda de emprego
  • Suicídio
  • Alcoolismo
  • Droga adição

Um estudo com 150 adultos com aterosclerose mostrou índices de agravamento na doença naqueles que explodiam com raiva em maior constância. Não é a toa que já ouvimos tanto a expressão "morrer de raiva." Há um componente de grande  importância a ser considerado; que é a ruminação raivosa combinada com uma hostilidade, uma agressividade fora de controle, o cinismo agressivo, a automutilação, etc.


Raiva, bem-estar geral e a qualidade de relações interpessoais


O controle da raiva deve ser aprendido já na infância, e refinado conforme a pessoa cresce, porém, a maioria dos pais, ou cuidadores, não foi orientado a controlar a raiva durante a própria infância, e dessa forma, os hábitos acumulados passam para a geração seguinte. A meu ver, a própria palavra "controlar" me parece errada ou talvez mal compreendida. Prefiro usar o termo "ensinado" do que "controlado". Então vamos lá. Para ensinar controle não podemos estar descontrolados... Quando a criança é rude, agressiva, o que normalmente fazemos? Dizemos como ela deve pensar (sem ouvir o que ela pensa), fazemos um discurso com voz alterada (irritada, descontrolada) seguido de ameaças! E como isso afeta a criança? (ou qualquer um de nós). Ela fica com mais raiva porque não foi ouvida! O tom de voz agressivo, desperta no cérebro, um sistema de reatividade (sistema límbico), gerando raiva, medo, hostilidade, tristeza, e aí a confusão tá feita!
As crianças precisam sentir que são capazes de controlar a própria raiva, precisam sentir que são ouvidas, olhadas, ensinadas, e os cuidadores podem ajudar fazendo perguntas como: "O que você acha que pode ser feito nessa situação?" "O que você pensa sobre esse assunto?" "Você gostaria que isso acontecesse com você?" 
Dessa forma você ensina a criança a lidar com problemas e dificuldades desde cedo, ensina a dialogar, achar soluções criativas, entender o espaço do outro, pois, esses são componentes importantes para mais tarde ser usado na vida de um modo geral.
 E os adultos? 
Uma das maiores dificuldades dos adultos vem do estresse não monitorado, ou seja, o estresse emocional que se torna crônico. 

O que é o estresse emocional?


O estresse emocional é uma reação que temos diante de algo que nos obrigue a fazer um esforço maior do que o usual para nos adaptarmos a algo que não estamos de acordo, seja no mundo externo do dia-dia e ou no mundo interno das nossas emoções. Seria um estado de tensão mental e físico que gera um desequilíbrio no funcionamento geral do ser humano que enfraquece seu sistema imunológico. A tendência a se estressar constitui um quadro de distorções cognitivas, ou seja, um modo inadequado de avaliar os eventos do nosso cotidiano, o que nos leva a agir de forma reativa, descontrolada, raivosa... 

Como o  estresse se desenvolve e vira crônico?


Quando não lidamos bem com um fato e essa mensagem chega em nosso cérebro como uma ameaça, desenvolve-se um processo no cérebro que dará uma resposta física, emocional e mental. Uma parte do cérebro que se chama hipotálamo, comunica-se com a hipófise e manda uma mensagem para as glândulas adrenais produzirem adrenalina e cortisol.Tudo isso serve para te ajudar caso você realmente esteja em uma emergência na qual necessite de muita energia, como por exemplo, virar a noite devido um acidente, ou energia para correr (fugir); passado o problema (momentâneo) o corpo volta ao seu equilíbrio sem problemas.
Porém, se o estresse persiste por uma questão emocional desfuncional prolongada, você entra em quase-exaustão. Por outro lado, se você percebesse o quanto sua reação emocional esta disfuncional e aprendesse, treinasse mecanismos para se acalmar (aprender coerência cardíaca, ou meditação, por exemplo), você pouparia sua saúde emocional e física. O grande problema hoje em dia é que as pessoas estão cada vez mais doentes devido ao estresse crônico e na mesma proporção não se importando com as reações emocionais e físicas decorrentes dos mecanismos disfuncionais que elas mesmas criam, e com o tempo, esse processo se torna um hábito muito ruim, um sistema crônico com consequências graves.

O grande EU e a raiva.


O ser humano é desde o inicio de sua vida fascinado por si mesmo, pela autoimagem, pela própria historia. Nos dias de hoje, nunca se cultivou tanto o Eu. As músicas, os aplicativos, os filmes, novelas, os milhares de discursos inflamados sobre como devemos olhar para nossos umbigos e isso por si só basta. Porém, a prática no dia-dia demonstra como esse mundo construído é insatisfatório, uma vez que, ao mesmo tempo que adoramos o nosso templo narcisista buscamos desesperadamente o olhar do outro.
Crescemos treinados para o egoismo, individualismo e pouca conexão ou aceitação de que o mundo é feito para partilhar, conectar, empatizar, dividir, unir, respeitar, ou seja, o oposto do que vivemos hoje. Esse é o principal viés da raiva ( há muitos outros), como o mundo em que estamos inseridos, na maior parte do tempo, não responde aos nossos desejos, ficamos enraivecidos e quanto mais tentamos controlar a situação mais ela sai do controle e mais raiva vamos adicionando no caldeirão da vaidade humana insatisfeita. O resultado dessa conta que não fecha vemos todos os dias em forma de estresse raivoso que explode nos crimes passionais, na violência doméstica, na agressão no trânsito, no bullying, etc, que insistimos em não olhar, mas que, nos manda uma conta altíssima para pagarmos! 

Como lidar com a raiva


Afinal a raiva é boa ou má? A raiva pode ser fruto de preocupações legitimas, mas o que realmente importa é como iremos atua-la, ou seja, qual comportamento daremos vasão quando ela nos visita. 
Para lidar com a raiva, precisamos cuidar do estresse crônico, cultivar a auto-observação,  estarmos dispostos a mergulhar nos nossos porões internos sem as máscaras do faz de conta. Também precisamos olhar e cuidar das seguintes fontes internas:
  • Pensamentos rígidos
  • Valores/crenças antigas que não se adequam a realidade atual
  • Expectativas impossíveis de serem concretizadas
  • Negativismo, pessimismo, mau humor
  • Não saber dizer não
  • Não saber receber um não
  • Níveis de ansiedade muito acentuados 
  • Competição constante
  • Pressa como modo de vida
  • Inabilidade de perdoar e ressignificar passado
  • Perfeccionismo
  • Ser controlador
  • Pensamentos obsessivos
  • Egoismo 


A prática da observação é a porta principal para a mudança de mindset. Aprenda a conhecer seu mundo interno sem o algoz do julgamento, apenas observe o mundo de maneira curiosa com os olhos voltados para o momento presente. Deixe o passado no passado e entenda que o futuro se constrói na vivência do dia a dia, portanto, viva seus dias com mais gratidão e aceite que o mundo é impermanente.


Annelise Larangeira

Psicóloga clinica- (Adultos e Casais)
CRP 06/139239

Profª Pós-Graduação
Especialista em Medicina do Comportamental
Especialista em Neurociências do Comportamento
Especialista em Psicologia Positiva
Hipnose Clinica 
Instrutora de Mindfulness



Instagran: @anneliseuniversodamente





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